E porque você não deveria fazer o mesmo.
Sejamos francos: nós estamos o tempo todo fazendo coisas para nos sentirmos péssimos. Não estou supondo nada, é um fato.
Apesar da minha mãe insistir no contrário, eu sou igual a todo mundo e também vivo de autoflagelo por puro prazer. Perco um tempo valiosíssimo distraída com coisas que não acrescentam nada, não fedem nem cheiram e, por muitas vezes, me dão uma pontada no miocárdio.
Mas como sou a favor de exorcizar as nossas desgraças falando sobre elas, listarei a seguir algumas das coisas que me deixam toda engatilhada.
- Métodos de organização
Viu como eu sou IGUAL a todo mundo? Eu juro que tentei! Tentei por anos fazer isso funcionar pra mim, mas a verdade é que eu não consigo desenhar folhagens, fazer colagens, manter um habit tracker (???gente???). E por mais que eu não tenha um pingo de paciência, adoro sofrer com as obras de arte que a galera faz nos cadernos pontilhados, os planners impecáveis, os aplicativos de organização sempre transbordando de coisas pra fazer. É fascinante perceber o quanto todo mundo é tão organizado e criativo e eu jogo tudo, de caneta esferográfica azul, num bloquinho qualquer, com uma letra tenebrosa pois um pouco/muito de preguiça.
- Tour pelo meu apartamento
Aqui o buraco fica um pouco mais embaixo porque é difícil entender como as pessoas conseguem reformar uma casa inteira em três meses e eu estou com meu sofá todo esfolado de unha de gato há anos. Simplesmente porque mandar fazer um sofá, com o tecido e o tamanho que atenda as nossas necessidades, é caro. O tour pelo meu apartamento esfrega tanto na minha cara o quanto eu preciso estar o tempo todo fazendo mil escolhas quanto ao meu dinheiro, que às vezes é inevitável bater a bad. Ainda assim, perco horas e horas vendo o povo apresentar a samambaia da prateleira da sala, o fogão de indução, a escrivaninha de madeira de pinus. Oi, prazer, tudo bom? Ah, e eu não estou falando de apartamentos de grandes influencers, com aquele monte de mármore, lustre de cristal, corrimão de ouro (insira aqui o meme da Nazaré tentando resolver as equações). Falo de gente normal, que acorda cedo pra trabalhar no seu emprego comum, mas o porcelanato polido, a lava e seca e a geladeira inverse multidoor estão em dia. Deus, onde que eu tô errando?
Eu odeio o Linkedin. Vou repetir e exclamar: eu odeio o Linkedin! A maior função do Linkedin não é compartilhar experiências e, quiçá, conseguir um job novo. Sua maior função é esfregar com bombril na nossa cara o quão frustrados profissionalmente nós somos. Fale por você, Mari! Graças a Deus, SÓ POSSO FALAR POR MIM, UFA! E afirmo: aquele lugar não é saudável. De qualquer forma, todo santo dia eu recebo milhares de e-mails do Linkedin com oportunidades que jamais terei, atualizações de colegas sobre o quão incríveis são as empresas em que trabalham, dicas de gerenciamento de tempo e produtividade que só me lembram que eu nem lavei os pratos de ontem ainda. Por que eu não me descadastro da newsletter, então? Não sei... Ah, eu sei, chama 'gostar de sofrer'.
A parte boa? Bom, a parte boa é que eu não sigo ninguém com o corpo sarado, porque eu gosto de sofrer, mas tudo tem limite.
Brincadeiras à parte, eu acho importante a gente entender que tipo de sentimento um determinado conteúdo nos desperta, para não cairmos em certas armadilhas. Quanto mais a gente se conhece, menos nos sentimos mal com as informações que consumimos.
Eu já me senti um lixinho por não conseguir fazer aqueles arabescos maravilhosos no bullet journal, por exemplo. Hoje eu sei que o criador do método nunca ensinou a fazer uma flor sequer no caderno. Mas mais do que isso, eu entendi que não funciona pra mim. E tudo bem! Eu não preciso ter um bullet journal, eu não preciso ter um dia extremamente atarefado, eu não preciso provar alta performance pra ninguém. Hoje eu uso um único aplicativo de organização e já está mais do que suficiente para a minha realidade.
Quanto ao tour pelo apartamento, a mesma coisa. Eu nem gosto de porcelanato polido, é uma desgraça, marca até as digitais do pé. Você tem que limpar o tempo todo porque está sempre sujo. Que preguiça! O que quero dizer é que a realidade e os gostos das pessoas são tão diferentes dos meus, não tem motivo para eu me sentir mal porque o chão dos outros brilha. Eu não queria pisar lá mesmo =)
Eu continuo odiando o Linkedin, mas somente porque sou totalmente frustrada profissionalmente e preciso MUITO de terapia. A plataforma não tem nada a ver com isso. Não há motivo para tanta malcriação, já que estou bem empregada, num ambiente saudável, rodeada de pessoas com as quais tenho aprendido muito. Lá no fundo - e eu prometo qualquer dia desses procurar um profissional para me ajudar a fazer com que isso chegue à superfície -, eu sei que o trabalho é só um meio para um fim, ele não precisa ser o pilar mais importante que sustenta a minha vida.
E a lição coach do dia é: antes de se sentir mal por não ter ou viver a vida de alguém na internet, se pergunte se aquilo faz sentido pra você. Muitas vezes é só o costume* de achar que a sua vida é uma droga. Faça o teste: consuma o conteúdo que você acredita fazer mal, feche tudo e vá se ocupar de outra coisa. Perceba quantas vezes pensou sobre aquilo durante o dia. Olha, com conhecimento de causa, posso apostar que você nem se lembrará do que viu. No fundo, nada daquilo realmente te interessa ou cabe na sua realidade.
*Este post é somente um recorte de situações pessoais. De maneira alguma estou dizendo que problemas psicológicos, derivados ou agravados por conteúdos presentes em redes sociais, sejam "apenas questão de costume". Tenho plena consciência de que muita gente sofre e que precisa de ajuda profissional. Eu, por exemplo.
P.S.: Pra quem veio aqui no post anterior, voltamos ao layout antigo, pois o novo estava me irritando. Melhor assim, sem estresse.
Tenho evitado consumir certas coisas na internet porque são muito gatilhos hahaha
ResponderExcluirBullet Journal já desisti, eu costurei um caderninho e vou colando e escrevendo minhas coisinhas sem a pressão de deixar bonita pra ficar bem em foto
Ficar procurando ex-colegas meus nas redes sociais e ver como a vida deles parece ~melhor que a minha me faz sentir muito mal, mas taí uma coisa que não consigo parar de fazer, mesmo sabendo que me faz muito mal :)))
ResponderExcluirMisericórdia, que post necessário! Parece que é um tempo onde a individualidade e o ser diferente é ruim, né? O que mais pegou pra mim foi a organização, sou exatamente que nem você! Uso uma agenda de empresa de ferramentas pra colocar o que vou fazer naquela semana, numa letra terrível, haha! Já me martirizei por não conseguir entender a magia do "notion", mas quem disse que a gente precisa ser igual, né? Amei ler o seu texto, me fez pensar sobre o quanto a gente pode se perder fazendo algumas coisas, ou pensando no automático.
ResponderExcluirAté mais! <3