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05 fevereiro 2019

Parou a reclamação

Imagem: daqui - Artista: Harumi Hironaka

Desde o final do ano passado tenho percebido uma eufórica vontade de mudar certos comportamentos e atitudes, coisas que não me fazem bem. Quero mudar um pouco a forma como vivo a minha vida, como resolvo questões pessoais e, principalmente, como encaro o mundo a minha volta.

Eu me sinto cada vez mais exausta por me enxergar como uma pobre coitada que não tem poder algum sobre as circunstâncias da vida. Porque é aquela coisa, né gente? A vida vai acontecer. Quer eu queira ou não. E eu tenho algumas opções: 1) sentar e chorar (extremamente tentador); 2) fazer alguma coisa a respeito. E ainda existe uma terceira opção, justamente a que mais estava me levando ao fundo do poço: reclamar.

Juro que um dia cheguei em casa soltando tantos cachorros, mas tantos cachorros, que eles enfim me morderam. Passei umas duas horas reclamando de... nada. Bobagens que aconteceram, das quais eu não gostei, mas que não influenciaram em nada o curso da minha existência. Eu estava extremamente irritada com picuinhas que poderiam ter sido resolvidas na hora, ou que poderiam ter entrado por um ouvido e saído pelo outro. Ah, e o pinico que me serviu como depósito de tanta merda foi o ouvido do meu noivo. Coitado. Só me ouvia e acenava levemente com a cabeça. Durante duas horas. Deve ser amor mesmo.

Após o show de lamúrias, enfim parti em direção a um merecido banho e, ao me olhar no espelho, a primeira coisa que veio à cabeça diante daquela imagem foi "para de reclamar, sua insuportável". Sério, foi quase como se eu tivesse falando com uma outra pessoa, porque era exatamente isso que eu via no reflexo: uma chata que não sabia fazer outra coisa da vida além de reclamar. Naquele dia eu tomei um banho pra lavar até a alma. 

Eu cheguei a um ponto em que conviver comigo mesma estava se tornando quase um fardo. Eu só falava dos outros e do que eu não gostava nos outros. Passava o dia inteiro juntando todas as merdas que aconteciam no trabalho para rasgar o verbo em casa. Culpava o universo pelas coisas não tão boas que aconteciam comigo e, claro, acreditava estar sempre certa. Afinal, eu era SEMPRE a vítima, independente da situação.

Como falei no post anterior, eu pretendo me reinventar este ano e a primeira coisa que eu preciso fazer para que esse sonho vire realidade é parar de reclamar. Confesso que será muito difícil, pois o calor tá demais, já já vem o frio, esse governo é todo cagado. Mas esse é o tipo de coisa que eu não posso controlar, as reclamações são apenas lugar-comum e o Twitter serve pra que, né? Com quase todo o resto, dá pra canalizar as duas horas de blábláblá-ninguém-me-ama-ninguém-me-quer para o que realmente importa. 

Sempre vai acontecer algo no trabalho que me fará torcer o nariz e revirar os olhos; as coisas estarão sempre caras; os pratos sempre se acumularão na pia, as roupas sujas no cesto; as pessoas sempre serão exageradamente felizes nas redes sociais. E o que eu posso fazer com tudo isso? Respirar fundo e focar no que importa. Já tem vários dias que decidi não choramingar. Dei um tempo desse negócio de me achar uma pobre miserável. Parei de vasculhar o Instagram em busca de ansiedade, inveja e o eterno sentimento de que todo mundo tem a vida melhor que a minha. Fui lavar logo meus pratos e pronto.

É claro que ainda estou engatinhando. Como uma reclamona profissional, com doutorado em Havard e um Nobel na estante, é complicado virar do avesso do dia pra noite. Mas já me sinto orgulhosa por ter me reconhecido dessa maneira (primeiro passo para a rehab), não quero perder o tempo que eu não tenho procurando desculpas para justificar o vitimismo que só existe na minha cabeça. Tenho certeza de que aprender a ter mais consciência do meu papel nas situações e do que eu posso ou não fazer para encará-las será uma experiência libertadora. 

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