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06 maio 2021

 E porque você não deveria fazer o mesmo.

Sejamos francos: nós estamos o tempo todo fazendo coisas para nos sentirmos péssimos. Não estou supondo nada, é um fato.

Apesar da minha mãe insistir no contrário, eu sou igual a todo mundo e também vivo de autoflagelo por puro prazer. Perco um tempo valiosíssimo distraída com coisas que não acrescentam nada, não fedem nem cheiram e, por muitas vezes, me dão uma pontada no miocárdio.

Mas como sou a favor de exorcizar as nossas desgraças falando sobre elas, listarei a seguir algumas das coisas que me deixam toda engatilhada.

  • Métodos de organização

Viu como eu sou IGUAL a todo mundo? Eu juro que tentei! Tentei por anos fazer isso funcionar pra mim, mas a verdade é que eu não consigo desenhar folhagens, fazer colagens, manter um habit tracker (???gente???). E por mais que eu não tenha um pingo de paciência, adoro sofrer com as obras de arte que a galera faz nos cadernos pontilhados, os planners impecáveis, os aplicativos de organização sempre transbordando de coisas pra fazer. É fascinante perceber o quanto todo mundo é tão organizado e criativo e eu jogo tudo, de caneta esferográfica azul, num bloquinho qualquer, com uma letra tenebrosa pois um pouco/muito de preguiça.

[Meu sofisticadíssimo método de organização. Prometo que minha letra é melhor que isso.]
  • Tour pelo meu apartamento

Aqui o buraco fica um pouco mais embaixo porque é difícil entender como as pessoas conseguem reformar uma casa inteira em três meses e eu estou com meu sofá todo esfolado de unha de gato há anos. Simplesmente porque mandar fazer um sofá, com o tecido e o tamanho que atenda as nossas necessidades, é caro. O tour pelo meu apartamento esfrega tanto na minha cara o quanto eu preciso estar o tempo todo fazendo mil escolhas quanto ao meu dinheiro, que às vezes é inevitável bater a bad. Ainda assim, perco horas e horas vendo o povo apresentar a samambaia da prateleira da sala, o fogão de indução, a escrivaninha de madeira de pinus. Oi, prazer, tudo bom? Ah, e eu não estou falando de apartamentos de grandes influencers, com aquele monte de mármore, lustre de cristal, corrimão de ouro (insira aqui o meme da Nazaré tentando resolver as equações). Falo de gente normal, que acorda cedo pra trabalhar no seu emprego comum, mas o porcelanato polido, a lava e seca e a geladeira inverse multidoor estão em dia. Deus, onde que eu tô errando?

  • Linkedin

Eu odeio o Linkedin. Vou repetir e exclamar: eu odeio o Linkedin! A maior função do Linkedin não é compartilhar experiências e, quiçá, conseguir um job novo. Sua maior função é esfregar com bombril na nossa cara o quão frustrados profissionalmente nós somos. Fale por você, Mari! Graças a Deus, SÓ POSSO FALAR POR MIM, UFA! E afirmo: aquele lugar não é saudável. De qualquer forma, todo santo dia eu recebo milhares de e-mails do Linkedin com oportunidades que jamais terei, atualizações de colegas sobre o quão incríveis são as empresas em que trabalham, dicas de gerenciamento de tempo e produtividade que só me lembram que eu nem lavei os pratos de ontem ainda. Por que eu não me descadastro da newsletter, então? Não sei... Ah, eu sei, chama 'gostar de sofrer'.

A parte boa? Bom, a parte boa é que eu não sigo ninguém com o corpo sarado, porque eu gosto de sofrer, mas tudo tem limite.

Brincadeiras à parte, eu acho importante a gente entender que tipo de sentimento um determinado conteúdo nos desperta, para não cairmos em certas armadilhas. Quanto mais a gente se conhece, menos nos sentimos mal com as informações que consumimos.

Eu já me senti um lixinho por não conseguir fazer aqueles arabescos maravilhosos no bullet journal, por exemplo. Hoje eu sei que o criador do método nunca ensinou a fazer uma flor sequer no caderno. Mas mais do que isso, eu entendi que não funciona pra mim. E tudo bem! Eu não preciso ter um bullet journal, eu não preciso ter um dia extremamente atarefado, eu não preciso provar alta performance pra ninguém. Hoje eu uso um único aplicativo de organização e já está mais do que suficiente para a minha realidade.

Quanto ao tour pelo apartamento, a mesma coisa. Eu nem gosto de porcelanato polido, é uma desgraça, marca até as digitais do pé. Você tem que limpar o tempo todo porque está sempre sujo. Que preguiça! O que quero dizer é que a realidade e os gostos das pessoas são tão diferentes dos meus, não tem motivo para eu me sentir mal porque o chão dos outros brilha. Eu não queria pisar lá mesmo =)

Eu continuo odiando o Linkedin, mas somente porque sou totalmente frustrada profissionalmente e preciso MUITO de terapia. A plataforma não tem nada a ver com isso. Não há motivo para tanta malcriação, já que estou bem empregada, num ambiente saudável, rodeada de pessoas com as quais tenho aprendido muito. Lá no fundo - e eu prometo qualquer dia desses procurar um profissional para me ajudar a fazer com que isso chegue à superfície -, eu sei que o trabalho é só um meio para um fim, ele não precisa ser o pilar mais importante que sustenta a minha vida. 

E a lição coach do dia é: antes de se sentir mal por não ter ou viver a vida de alguém na internet, se pergunte se aquilo faz sentido pra você. Muitas vezes é só o costume* de achar que a sua vida é uma droga. Faça o teste: consuma o conteúdo que você acredita fazer mal, feche tudo e vá se ocupar de outra coisa. Perceba quantas vezes pensou sobre aquilo durante o dia. Olha, com conhecimento de causa, posso apostar que você nem se lembrará do que viu. No fundo, nada daquilo realmente te interessa ou cabe na sua realidade.

*Este post é somente um recorte de situações pessoais. De maneira alguma estou dizendo que problemas psicológicos, derivados ou agravados por conteúdos presentes em redes sociais, sejam "apenas questão de costume". Tenho plena consciência de que muita gente sofre e que precisa de ajuda profissional. Eu, por exemplo.

P.S.: Pra quem veio aqui no post anterior, voltamos ao layout antigo, pois o novo estava me irritando. Melhor assim, sem estresse.

21 abril 2021



Eu confesso que tinha até esquecido da existência desse blog quando a Prelude me enviou um e-mail avisando sobre a renovação do domínio, ali pelo início de março. Sempre que recebo essa mensagem, principalmente nos últimos anos, tenho vontade de deixar vencer, perder o domínio de vez e viver minha vida. Já deu pra perceber que isso nunca aconteceu. Primeiro porque eu tenho pena. Segundo porque eu tenho esperança. 

Sim, pena. É que já são tantos anos de blog, sabe? Não, você não sabe. Pouquíssima gente sabe o que foi viver a era dos blogs no início dos anos 2000. Pois bem, eu estava lá. E apesar de não escrever aqui ininterruptamente desde então, não consigo desapegar. Eu não tenho dinheiro pra comprar carro, casa. Não tenho um bem sequer no meu nome. A única coisa que eu consigo alugar é este espaço (pois é, se eu paro de pagar e outra Mariany Gomes quiser, consegue facinho =?), dói demais ter que entregar as chaves. 

E esperança, porque eu sou uma grandessíssima iludida e acredito mesmo que um dia me dedicarei a este blog com afinco e constância. A única coisa a qual eu me dedico constantemente - e simplesmente porque não tenho dinheiro para comprar pronta - é o preparo das minhas refeições. Eu até gosto de cozinhar, mas todo dia é um saco. Sem contar que as opções estão cada vez mais escassas, daqui a pouco não teremos mais condições de comprar nada no supermercado também. #desabafo 

Bom, cá estou, pela milésima vez, encarando este paciente que há anos vem respirando por aparelhos, os quais eu insisto em não desligar. Só que nas últimas semanas, fazendo home office, sem sair nem pra buscar encomenda na portaria do prédio, bateu uma vontade danada de chafurdar por aqui. Contar sobre o que não tenho feito, o que não tenho lido, não tenho visto, não tenho vivido. Fala a verdade, um ótimo momento pra fazer um blog, né não? Opa! 

Não que alguém se importe, já que não tenho um pingo de credibilidade no mercado, mas gosto sempre de deixar claro que as minhas voltas são repentinas, assim como as minhas idas. Risos. Tanto faz eu escrever 10 posts depois deste, como voltar aqui apenas em 2030. É o meu jeitinho *-*. Mas coloquei até um layout novo pra ver se animo. Uma garota pode sonhar. 

Até breve! Eu acho*.

*Eu juro que tenho posts prontos nos rascunhos. Volto em breve ;)

- Aos que acessam o blog pelo celular, estamos com um probleminha no layout. Trabalharemos incansavelmente para resolver. (Acho chique falar no plural. Eu e minha equipe, que é composta por todas as minhas paranoias)
25 abril 2019

Imagem: Reprodução da obra de Romero Britto - Google

Depois do perrengue que eu passei para NÃO conseguir o ingresso para o show de Sandy e Junior - e de acompanhar uma discussão sobre a genuinidade do hype sobre o evento -, comecei a pensar no que me levou a ser fã da dupla e não de uma banda islandesa da década de 70 que, provavelmente, só eu conheceria.

Andando por aí pela internet, eu vejo pessoas, as quais tenho imenso apreço e estima, indicando músicas, livros, personalidades que eu nunca tinha conhecido mais desconhecidos. Sempre me pego no pulo do gato da invejinha por não ser tão descolada e ter um vasto currículo cultural. Eu sempre passeei pela popaiada clichê que todo mundo já estava exausto de ver a fuça. E não por falta de interesse, pois curiosa de nascença. Acho que a grande questão é que acomodei os meus gostos em uma macia cama king pop e, rodeada de travesseiros de refrões chicletes, de lá jamais saí. 

Sei lá, enquanto as pessoas estouravam os ouvidos com seus primeiro iPods, eu nem tinha computador em casa. Passei a maior parte da vida refém da televisão, e por mais que a MTV ainda existisse, eu sempre tive uma queda pelo popular. Aos primeiros acordes de uma música mais 'complexa e elaborada', eu já mudava de canal. Poxa, estava esperando Karla, do LS Jack #xatiada. Não sei se meus pais têm culpa no cartório, já que me presenteavam com cds do É o Tchan. Mas não acredito, pois não acredito que alguém que nasceu nos anos 90 não tenha ralado na boquinha da garrafa. 

A galera discutindo Tolstói e eu folheando Julia Quinn. Não que eu não queira ler Tolstói (inclusive tenho e-books), mas eu adoro um romancezinho pra ler esparramada no sofá numa tarde chuvosa. Às vezes eu não tô muito a fim de discutir grandes questões da humanidade (às vezes eu tô muito), eu só quero assistir Meninas Malvadas em paz. O fato de gostar de roupas pretas e flertar com o estilo grunge, não faz de mim NADA além de alguém que gosta de roupas pretas e flerta com o estilo grunge. 

Não tem uma célula do meu corpo desesperada para ser a diferentona da porra. Mas assim, eu acho que é aí que está o ponto, sabe? Minhas escolhas populares só mostram que enquanto as pessoas querem ter razão, eu quero é ser feliz. 

Gostaria de ter um currículo bonito para estampar o meu Linkedin? Gostaria. Mas a verdade é que passo horas no Twitter escrevendo errado de propósito. Eu sou é POPular!

P.S.: O Romero Britto lá em cima é meramente ilustrativo. Taí uma popaiada que é cafona até pra mim =D

04 abril 2019

Photo by Lisa Fotios from Pexels

Sei que esse desafio não é novidade para ninguém, mas eu resolvi sair do plano espectador e me dar a chance de colocar a mão na massa. Ver os outros fazendo é fácil, e você sempre fica com aquela sensação de "grande coisa". Mas será que é mesmo? Foi o que eu tentei descobrir.

Desafiar-me a passar uma semana sem redes sociais até teve a ver com os milhares de casos que já tive a oportunidade de acompanhar por essa internet de meu Deus, mas o que realmente me fez agir foi um episódio um tanto quanto assustador. Acordei, certa vez, às 08:00. Até aí tudo bem, geralmente levanto antes disso até, pois gosto de acordar cedo, tomar meu café, assistir aos jornais matinais, fazer meus serviços domésticos e ainda resolver vários pepinos antes do meio dia. Só que desta vez eu estava com preguiça. E eu me permito ter preguiça, pois a Terra continuará girando se eu não levantar às oito em ponto. Pra falar bem a verdade, eu ainda estava com sono e deveria ter virado para o outro lado e continuado a sonhar com ladrões e quedas de precipícios (eu só sonho com desgraça, nunca sonhei com passeios em Paris). Mas ao abrir milimetricamente os meus olhos, adivinha quem eu encontrei posicionado estrategicamente no criado-mudo? Pois é.

A tentação foi mais forte e eu peguei o celular só pra ver a hora. Grande foi a minha surpresa quando, enfim, olhei para o relógio e ele marcava 12:14. Sim, precisamente este horário. Eu não esqueci. Eu não virei para o lado e dormi até meio dia. Eu passei quatro horas e quatorze minutos nas redes sociais. SEM PAUSA. Vocês não fazem ideia do pulo que eu dei da cama, assustada por ter jogado no lixo o que eu considero ser o meu bem mais valioso: o tempo. Me senti muito culpada por não conseguir resistir ao ímpeto de pegar o bendito aparelho e me perder por horas e horas num oceano de nada. Sim, porque as horas que eu perdi deslizando pelo feed do Instagram, completando todos os pontinhos dos stories e assistindo a todos os vídeos que o Youtube me recomendava, não me acrescentaram um pingo no i.

Você deve estar pensando que eu sou exagerada, jogada aos seus pés, mas o fato é que eu não sou tão viciada assim em redes sociais, a ponto de perder uma manhã inteira. O que me encanta é que o núcleo da Terra é o limite. Eu rolo o feed do Twitter, por exemplo, e acho um link interessante. E a partir deste, um outro link. Depois outro. E outro. E aí, colegas, já nem lembro qual aplicativo me levou a essa estrada de tijolos amarelos. As quatro horas ininterruptas navegando sem bússola me assustaram porque não é um comportamente corriqueiro. Mas este episódio me mostrou que se eu escolhesse me tornar uma viciada, eu me tornaria.

Sem hipocrisia, pessoal, é claro que eu checo as redes sociais diariamente, mas não por quatro horas seguidas. Eu venho tentando desenvolver a consciência do uso menos nocivo desses aplicativos, tentando entender o que eu sinto quando exposta a determinados conteúdos. Presto cada vez mais atenção no que me deixa feliz, no que me inspira, no que me causa ansiedade e no que me é totalmente indiferente. Estas informações guiam o meu comportamento enquanto usuária e me preocupo em estar sempre atenta a cada um destes pontos.

Com a sensação de que as várias horas perdidas naquela manhã poderia ser o início da barbárie (hehe!), achei que seria interessante passar pela experiência do famoso detox digital. Foram sete dias de rehab. Muitos aprendizados, muitos mitos caíram por terra, muitas verdades vieram à tona. Pontuei os comportamentos e características a seguir:

O tempo passa 


Eu sou dona de casa e, não sei se você sabe, serviço doméstico não acaba nunca. Eu tenho outras milhares de coisas para fazer além de espiar o feed do Instagram. Minhas manhãs são sempre muito ocupadas e eu raramente fico no celular em dias normais, que dirá no detox. Confesso que, às vezes, ali depois do almoço, eu esquecia que tinha excluído os aplicativos e destravava o celular para checar alguma novidade. Como não tinha nada, passei a preencher o tempo com outras coisas. Li dois livros, coloquei minhas séries em dia, escrevi posts pro blog, dei continuidade a um curso online e ao inglês que estudo em casa mesmo.

Nós estamos tão acostumados a grudar no celular em momentos de ócio, que realmente acreditamos na falácia de que o tempo não passa se ele não estiver nas mãos. Mas ora, as redes sociais são as únicas fontes de entretenimento possíveis? Lembrem-se que o detox é de redes sociais, o resto da internet pode ser usada à vontade. Será possível que não tem mais nada pra fazer? Eu não acredito nisso. Para mim, tudo na vida é prioridade. Se você prefere usar o seu momento off nos aplicativos, não me diga que não lê porque não tem tempo. Você só está priorizando uma atividade.

Eu não perdi nada 


Olha o famoso FOMO (Fear of missing out) aí. Quando decidi passar por essa experiência, uma das minhas preocupações era justamente o medo de perder alguma coisa. É claro que coisas extraordinárias iriam acontecer na minha ausência e eu ficaria de fora. Pior, a oportunidade da minha vida estaria nas redes sociais enquanto eu estivesse ausente. É CLARO!

Daí eu me dei conta de que as oportunidades da nossa vida podem estar no banco de uma praça na Nova Zelândia e estamos perdendo do mesmo jeito.

A gente meio que atrelou isso de estar perdendo algo às redes sociais, quando na verdade nós estamos perdendo coisas o tempo inteiro, não somente por meio da internet. É a vida. É impossível você viver todas as coisas ao mesmo tempo. Não se engane, rolar o feed do Instagram não te teletransporta para lugar algum, não te faz viver nenhuma experiência nova. Tudo aquilo pode te servir de inspiração, mas a vida acontece fora do aplicativo.

Cheguei a conclusão de que eu realmente não perdi nada, porque não é como se eu tivesse colocado a minha vida em stand by. Eu só não estava assistindo a vida dos outros.

E a vida dos outros não é melhor que a minha


É óbvio que se você está o tempo todo exposto à vida alheia - que mais parece um eterno Noronhe-se - em algum momento sentirá que a sua vida não é boa o suficiente. Quando não se tem mais acesso aos presets do Ligthroom embelezando a timeline, não se tem mais esse tipo de pensamento.

Eu não tinha mais com quem comparar a minha vida e, devo confessar, me senti muito bem. Pois ao dedicar a minha atenção somente a mim mesma, consegui redirecionar um pouco o meu mindset. Se antes deixava de fazer algo por achar que fulano fazia melhor, durante esses dias eu me permiti fazer as coisas. Escrever este post é um exemplo. É óbvio que milhares de pessoas escrevem bem melhor do que eu, mas isso deve me servir de incentivo para melhorar, não me paralisar e achar que não sou boa o suficiente.

(Então, eu sou a presidente do fã-clube dos pessimistas, nunca acho que o que eu faço está bom. Mas esses sete dias me fizeram enxergar uma luzinha no fim do túnel. Eu acho que estou começando a compreender que não sou a pior em tudo, só estou fazendo as comparações erradas. Eu devo querer ser melhor do que eu fui ontem, não do que fulana parece ser sempre. Entende?)

Quando olhamos para o mundo pela lente do espectador, de fato as coisas sempre parecem bem mais interessantes. O negócio é parar de assistir e começar a fazer.

Imagem: Contente

Cadê a novidade?


Passei sete dias longe e quando voltei não percebi uma única diferença. Vai, ok, uma das meninas que eu sigo arrumou um namorado. Mas assim, qual a relevância deste dado para a diminuição da desigualdade social? 

A grande verdade é que as pessoas continuam postando as mesmas coisas, sobre os mesmos assuntos, da mesma forma. Sinceramente, eu esperava que ao reinstalar os aplicativos, a saudade (hehe!) me faria enxergar tudo com um novo brilho. E isso nem de longe aconteceu. Abri, primeiramente, o Twitter - minha rede social preferida - e encontrei os tweets exatamente como os tinha deixado. Parecia que o tempo não tinha passado. As pessoas continuavam reclamando da nova declaração sem noção do Bolsonaro, do casamento de alguma subcelebridade da vez... o de sempre. Para ser honesta, só senti falta dos memes mesmo.

Ansiedade


A minha ansiedade aumentou durante os primeiros dias de desafio. Como já falei, eu esquecia que tinha excluído os aplicativos e pegava o celular automaticamente para conferir as notificações. Além disso, eu sentia o celular vibrar o tempo todo. Foi muito estranho, o meu cérebro ainda não tinha entendido que eu não estava mais conectada àquelas redes. Creepy!

Só que com o passar do tempo o inverso tornou-se verdade. Eu não mais tocava no celular, tanto que minha bateria chegava a terminar o dia em 80%. Esqueci um pouco que ele existia e, como não tinha mais a vida alheia para tomar conta, foquei em outras coisas. Não mais me deparava com aquela sensação de quase morte por não estar rolando o feed do Instagram. 


Não, eu não fiquei louca


Alguns anos atrás, meu irmão me contou que tinha excluído o Facebook. Prontamente o chamei de louco. Como assim alguém exclui o Facebook? Coitado, respiraria com ajuda de aparelhos a partir daquele momento. Na minha cabeça, à época, não estar no Facebook era o mesmo que não existir. Por ironia do destino, hoje eu me interesso zero e caindo pelo Facebook.

Daí que contei para algumas amigas que estava participando desse desafio e uma delas usou o mesmo adjetivo que eu empreguei na conversa com meu irmão: Tu é LOUCA? Risos! Em sua defesa, ela não tinha entendido que era somente um desafio e não a saída definitiva das redes sociais. Mesmo assim, é muito engraçado. E muito estranho.

O pensamento que tive lá atrás quando meu irmão decidiu excluir - sim, ele excluiu definitivamente - o Facebook não é singular. As pessoas realmente acreditam que optar por não estar na redes sociais faz de você um maluco. Afinal, todo mundo tem, dãã! Digo mais, se você não tem uma conta no Instagram, você não existe. Eu nunca te vi. Você existe?

Olha, eu continuei existindo esses sete dias, chequei algumas vezes as batidas do meu coração e elas pareciam firmes e fortes. Fiz várias coisas, inclusive os meus óculos novos e as unhas. Ah, e também não fui parar no manicômio. Muito pelo contrário, percebi uma certa diminuição na ansiedade, como já falei, o que contribui muito para a saúde mental.

Escolher não estar nas redes sociais é normal, ninguém é obrigado. Pode parecer que as pessoas que decidem por esta atitude são malucas, ignorantes, mal informadas e vivem à margem do mundo. Mas não é verdade. Algumas pessoas não vêm a necessidade mesmo, inclusive acreditam ser uma grande perda de tempo (e não é verdade?). E estão no direito delas. 


Quero deixar claro que eu não comecei a odiar as redes sociais, inclusive já voltei para todas <3 Eu sou do time que acha que a internet, em geral, deve nos servir, e não nós a ela. Aprender como usar cada uma dessas ferramentas é princípio básico para uma vida digital saudável. Vocês me desculpem, mas, principalmente depois dessa experiência, eu não acredito que somos sempre as vítimas quando o assunto é internet. Como falei acima, ninguém é obrigado a estar logado o tempo inteiro.

Eu sou publicitária e sei o quanto o canto da propaganda parece com o de uma sereia. Mas no final das contas, quem decide, quem tem o poder de escolha é você. Certa vez comentei com uma amiga esse meu desejo de dar um tempo e ela foi categórica ao dizer "EU não consigo". Perceberam? ELA não consegue, ELA não quer. Os algoritmos das redes sociais não são armas apontadas para a nossa cabeça. Não estou questionando a dificuldade de se manter afastado ou de usar com consciência, mas nem que eu tivesse todo o dinheiro do mundo poderia comprar a ideia de que eu não tenho escolha. 

Bom, pra mim esse desafio super funcionou. Acabou que deu muito certo e foi bem mais fácil do que eu pensava. Não sei se a minha experiência pode ajudar alguém de alguma forma, mas se eu puder dar um conselho, sugiro que você tente. Não precisa colocar meta em dias, como eu fiz. Faça no seu tempo, siga até o ponto que você achar que deve. Mas o mais importante é prestar atenção no que você sente, nos seus comportamentos, no porquê daquilo fazer ou não falta na sua vida. Será a partir dessas conclusões que você conseguirá entender se o uso que tem feito das redes é, de fato, saudável.

Gostaria de indicar para vocês o especial Detox Digital da Contente. Como o próprio site fala: é uma imersão coletiva e uma investigação pessoal sobre o excesso (de consumo) de informação. Recomendo muito a leitura!