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Sei que esse desafio não é novidade para ninguém, mas eu resolvi sair do plano espectador e me dar a chance de colocar a mão na massa. Ver os outros fazendo é fácil, e você sempre fica com aquela sensação de "grande coisa". Mas será que é mesmo? Foi o que eu tentei descobrir.
Desafiar-me a passar uma semana sem redes sociais até teve a ver com os milhares de casos que já tive a oportunidade de acompanhar por essa internet de meu Deus, mas o que realmente me fez agir foi um episódio um tanto quanto assustador. Acordei, certa vez, às 08:00. Até aí tudo bem, geralmente levanto antes disso até, pois gosto de acordar cedo, tomar meu café, assistir aos jornais matinais, fazer meus serviços domésticos e ainda resolver vários pepinos antes do meio dia. Só que desta vez eu estava com preguiça. E eu me permito ter preguiça, pois a Terra continuará girando se eu não levantar às oito em ponto. Pra falar bem a verdade, eu ainda estava com sono e deveria ter virado para o outro lado e continuado a sonhar com ladrões e quedas de precipícios (eu só sonho com desgraça, nunca sonhei com passeios em Paris). Mas ao abrir milimetricamente os meus olhos, adivinha quem eu encontrei posicionado estrategicamente no criado-mudo? Pois é.
A tentação foi mais forte e eu peguei o celular só pra ver a hora. Grande foi a minha surpresa quando, enfim, olhei para o relógio e ele marcava 12:14. Sim, precisamente este horário. Eu não esqueci. Eu não virei para o lado e dormi até meio dia. Eu passei quatro horas e quatorze minutos nas redes sociais. SEM PAUSA. Vocês não fazem ideia do pulo que eu dei da cama, assustada por ter jogado no lixo o que eu considero ser o meu bem mais valioso: o tempo. Me senti muito culpada por não conseguir resistir ao ímpeto de pegar o bendito aparelho e me perder por horas e horas num oceano de nada. Sim, porque as horas que eu perdi deslizando pelo feed do Instagram, completando todos os pontinhos dos stories e assistindo a todos os vídeos que o Youtube me recomendava, não me acrescentaram um pingo no i.
Você deve estar pensando que eu sou exagerada, jogada aos seus pés, mas o fato é que eu não sou tão viciada assim em redes sociais, a ponto de perder uma manhã inteira. O que me encanta é que o núcleo da Terra é o limite. Eu rolo o feed do Twitter, por exemplo, e acho um link interessante. E a partir deste, um outro link. Depois outro. E outro. E aí, colegas, já nem lembro qual aplicativo me levou a essa estrada de tijolos amarelos.
As quatro horas ininterruptas navegando sem bússola me assustaram porque não é um comportamente corriqueiro. Mas este episódio me mostrou que se eu escolhesse me tornar uma viciada, eu me tornaria.
Sem hipocrisia, pessoal, é claro que eu checo as redes sociais diariamente, mas não por quatro horas seguidas. Eu venho tentando desenvolver a consciência do uso menos nocivo desses aplicativos, tentando entender o que eu sinto quando exposta a determinados conteúdos. Presto cada vez mais atenção no que me deixa feliz, no que me inspira, no que me causa ansiedade e no que me é totalmente indiferente. Estas informações guiam o meu comportamento enquanto usuária e me preocupo em estar sempre atenta a cada um destes pontos.
Com a sensação de que as várias horas perdidas naquela manhã poderia ser o início da barbárie (hehe!), achei que seria interessante passar pela experiência do famoso detox digital. Foram sete dias de rehab. Muitos aprendizados, muitos mitos caíram por terra, muitas verdades vieram à tona. Pontuei os comportamentos e características a seguir:
O tempo passa
Eu sou dona de casa e, não sei se você sabe, serviço doméstico não acaba nunca. Eu tenho outras milhares de coisas para fazer além de espiar o feed do Instagram. Minhas manhãs são sempre muito ocupadas e eu raramente fico no celular em dias normais, que dirá no detox. Confesso que, às vezes, ali depois do almoço, eu esquecia que tinha excluído os aplicativos e destravava o celular para checar alguma novidade. Como não tinha nada, passei a preencher o tempo com outras coisas. Li dois livros, coloquei minhas séries em dia, escrevi posts pro blog, dei continuidade a um curso online e ao inglês que estudo em casa mesmo.
Nós estamos tão acostumados a grudar no celular em momentos de ócio, que realmente acreditamos na falácia de que o tempo não passa se ele não estiver nas mãos. Mas ora, as redes sociais são as únicas fontes de entretenimento possíveis? Lembrem-se que o detox é de redes sociais, o resto da internet pode ser usada à vontade. Será possível que não tem mais nada pra fazer? Eu não acredito nisso. Para mim, tudo na vida é prioridade. Se você prefere usar o seu momento off nos aplicativos, não me diga que não lê porque não tem tempo. Você só está priorizando uma atividade.
Eu não perdi nada
Olha o famoso FOMO (Fear of missing out) aí. Quando decidi passar por essa experiência, uma das minhas preocupações era justamente o medo de perder alguma coisa. É claro que coisas extraordinárias iriam acontecer na minha ausência e eu ficaria de fora. Pior, a oportunidade da minha vida estaria nas redes sociais enquanto eu estivesse ausente. É CLARO!
Daí eu me dei conta de que as oportunidades da nossa vida podem estar no banco de uma praça na Nova Zelândia e estamos perdendo do mesmo jeito.
A gente meio que atrelou isso de estar perdendo algo às redes sociais, quando na verdade nós estamos perdendo coisas o tempo inteiro, não somente por meio da internet. É a vida. É impossível você viver todas as coisas ao mesmo tempo. Não se engane, rolar o feed do Instagram não te teletransporta para lugar algum, não te faz viver nenhuma experiência nova. Tudo aquilo pode te servir de inspiração, mas a vida acontece fora do aplicativo.
Cheguei a conclusão de que eu realmente não perdi nada, porque não é como se eu tivesse colocado a minha vida em stand by. Eu só não estava assistindo a vida dos outros.
E a vida dos outros não é melhor que a minha
É óbvio que se você está o tempo todo exposto à vida alheia - que mais parece um eterno
Noronhe-se - em algum momento sentirá que a sua vida não é boa o suficiente. Quando não se tem mais acesso aos presets do Ligthroom embelezando a timeline, não se tem mais esse tipo de pensamento.
Eu não tinha mais com quem comparar a minha vida e, devo confessar, me senti muito bem. Pois ao dedicar a minha atenção somente a mim mesma, consegui redirecionar um pouco o meu mindset. Se antes deixava de fazer algo por achar que fulano fazia melhor, durante esses dias eu me permiti fazer as coisas. Escrever este post é um exemplo. É óbvio que milhares de pessoas escrevem bem melhor do que eu, mas isso deve me servir de incentivo para melhorar, não me paralisar e achar que não sou boa o suficiente.
(Então, eu sou a presidente do fã-clube dos pessimistas, nunca acho que o que eu faço está bom. Mas esses sete dias me fizeram enxergar uma luzinha no fim do túnel. Eu acho que estou começando a compreender que não sou a pior em tudo, só estou fazendo as comparações erradas. Eu devo querer ser melhor do que eu fui ontem, não do que fulana parece ser sempre. Entende?)
Quando olhamos para o mundo pela lente do espectador, de fato as coisas sempre parecem bem mais interessantes. O negócio é parar de assistir e começar a fazer.
Cadê a novidade?
Passei sete dias longe e quando voltei não percebi uma única diferença. Vai, ok, uma das meninas que eu sigo arrumou um namorado. Mas assim, qual a relevância deste dado para a diminuição da desigualdade social?
A grande verdade é que as pessoas continuam postando as mesmas coisas, sobre os mesmos assuntos, da mesma forma. Sinceramente, eu esperava que ao reinstalar os aplicativos, a saudade (hehe!) me faria enxergar tudo com um novo brilho. E isso nem de longe aconteceu. Abri, primeiramente, o Twitter - minha rede social preferida - e encontrei os tweets exatamente como os tinha deixado. Parecia que o tempo não tinha passado. As pessoas continuavam reclamando da nova declaração sem noção do Bolsonaro, do casamento de alguma subcelebridade da vez... o de sempre. Para ser honesta, só senti falta dos memes mesmo.
Ansiedade
A minha ansiedade aumentou durante os primeiros dias de desafio. Como já falei, eu esquecia que tinha excluído os aplicativos e pegava o celular automaticamente para conferir as notificações. Além disso, eu sentia o celular vibrar o tempo todo. Foi muito estranho, o meu cérebro ainda não tinha entendido que eu não estava mais conectada àquelas redes. Creepy!
Só que com o passar do tempo o inverso tornou-se verdade. Eu não mais tocava no celular, tanto que minha bateria chegava a terminar o dia em 80%. Esqueci um pouco que ele existia e, como não tinha mais a vida alheia para tomar conta, foquei em outras coisas. Não mais me deparava com aquela sensação de quase morte por não estar rolando o feed do Instagram.
Não, eu não fiquei louca
Alguns anos atrás, meu irmão me contou que tinha excluído o Facebook. Prontamente o chamei de louco. Como assim alguém exclui o Facebook? Coitado, respiraria com ajuda de aparelhos a partir daquele momento. Na minha cabeça, à época, não estar no Facebook era o mesmo que não existir. Por ironia do destino, hoje eu me interesso zero e caindo pelo Facebook.
Daí que contei para algumas amigas que estava participando desse desafio e uma delas usou o mesmo adjetivo que eu empreguei na conversa com meu irmão: Tu é LOUCA? Risos! Em sua defesa, ela não tinha entendido que era somente um desafio e não a saída definitiva das redes sociais. Mesmo assim, é muito engraçado. E muito estranho.
O pensamento que tive lá atrás quando meu irmão decidiu excluir - sim, ele excluiu definitivamente - o Facebook não é singular. As pessoas realmente acreditam que optar por não estar na redes sociais faz de você um maluco. Afinal, todo mundo tem, dãã! Digo mais, se você não tem uma conta no Instagram, você não existe. Eu nunca te vi. Você existe?
Olha, eu continuei existindo esses sete dias, chequei algumas vezes as batidas do meu coração e elas pareciam firmes e fortes. Fiz várias coisas, inclusive os meus óculos novos e as unhas. Ah, e também não fui parar no manicômio. Muito pelo contrário, percebi uma certa diminuição na ansiedade, como já falei, o que contribui muito para a saúde mental.
Escolher não estar nas redes sociais é normal, ninguém é obrigado. Pode parecer que as pessoas que decidem por esta atitude são malucas, ignorantes, mal informadas e vivem à margem do mundo. Mas não é verdade. Algumas pessoas não vêm a necessidade mesmo, inclusive acreditam ser uma grande perda de tempo (e não é verdade?). E estão no direito delas.
Quero deixar claro que eu não comecei a odiar as redes sociais, inclusive já voltei para todas <3 Eu sou do time que acha que a internet, em geral, deve nos servir, e não nós a ela. Aprender como usar cada uma dessas ferramentas é princípio básico para uma vida digital saudável. Vocês me desculpem, mas, principalmente depois dessa experiência, eu não acredito que somos sempre as vítimas quando o assunto é internet. Como falei acima, ninguém é obrigado a estar logado o tempo inteiro.
Eu sou publicitária e sei o quanto o canto da propaganda parece com o de uma sereia. Mas no final das contas, quem decide, quem tem o poder de escolha é você. Certa vez comentei com uma amiga esse meu desejo de dar um tempo e ela foi categórica ao dizer "EU não consigo". Perceberam? ELA não consegue, ELA não quer. Os algoritmos das redes sociais não são armas apontadas para a nossa cabeça. Não estou questionando a dificuldade de se manter afastado ou de usar com consciência, mas nem que eu tivesse todo o dinheiro do mundo poderia comprar a ideia de que eu não tenho escolha.
Bom, pra mim esse desafio super funcionou. Acabou que deu muito certo e foi bem mais fácil do que eu pensava. Não sei se a minha experiência pode ajudar alguém de alguma forma, mas se eu puder dar um conselho, sugiro que você tente. Não precisa colocar meta em dias, como eu fiz. Faça no seu tempo, siga até o ponto que você achar que deve. Mas o mais importante é prestar atenção no que você sente, nos seus comportamentos, no porquê daquilo fazer ou não falta na sua vida. Será a partir dessas conclusões que você conseguirá entender se o uso que tem feito das redes é, de fato, saudável.
Gostaria de indicar para vocês o especial Detox Digital da Contente.
Como o próprio site fala: é uma imersão coletiva e uma investigação pessoal sobre o excesso (de consumo) de informação. Recomendo muito a leitura!